Os números não mentem: a cada 20 horas, uma pessoa LGBT+ morre apenas por ser quem é — ou seja, por conta da LGBTfobia. Os dados são do Grupo Gay da Bahia, que estima a ocorrência desses crimes, uma vez que não há registros formais. Uma situação que merece toda a nossa atenção, uma vez que o Brasil é um dos países que mais registra crimes contra a população LGBT+ do mundo.
De acordo com a ONG Transgender Europe (TGEu), apenas nos últimos 8 anos, foram 868 travestis e transexuais mortos, o que nos coloca no topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras. Esse título não deveria dar orgulho a ninguém, e nos faz pensar o que podemos fazer para mudar este cenário.
No âmbito federal, já notamos avanços: em 2019, o Supremo Tribunal Federal considerou crime a LGBTfobia. Em menos de um ano após essa decisão histórica, especialistas apontam mudanças fundamentais. Para o jurista Paulo Iotti, diretor-presidente do Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero, “criminalizar uma conduta não resolve o problema social, (…) mas certamente reduz um pouco a prática do ato e nos dá mecanismos de luta contra as opressões sociais respectivas”.
Para Thiago Pena, de 25 anos, a resposta é mais simples do que parece: informação. Funcionário da Otis há 9 anos, Thiago entrou em 2011 como Jovem Aprendiz e hoje é consultor de vendas e líder do Elevar, Grupo de Afinidades da Otis para discutir o tema LGBT+. Com isso, juntou sua formação em Administração com outra grande paixão: liderança de projetos e pessoas. Não à toa, se especializou em Gestão Estratégia de Pessoas.
Em 2017, Thiago levou para a Otis a ideia de criar um Employee Resource Group (EGR) voltado para pessoas LGBT+ e aliados da causa. O conceito pode ser traduzido como um “grupo de afinidades entre os funcionários”, e tem como principal objetivo empoderar grupos (muitas vezes de minorias sociais) dentro da organização. Empresas como Google, LinkedIn e Facebook possuem seus próprios EGRs e serviram como inspiração para Thiago levar essa ideia para a Otis.
O projeto que ganhou o nome de Elevar tem a missão de conscientizar as pessoas e fazer com que elas entendam a realidade da população LGBT+. “Com o passar do tempo, eu percebi que a informação é o melhor caminho. Quando dialogo com uma pessoa e explico a ela sobre o tema, ela pode influenciar outras ao seu redor. Aos poucos, criamos uma rede e uma sociedade mais amorosa”, afirma Thiago.
O Consultor de Vendas encontrou na Otis um exemplo de empresa comprometida com a mudança. A empresa sempre abordou questões de inclusão e Thiago logo percebeu a oportunidade de aumentar o impacto da organização. Afinal, as pessoas precisam de informação para quebrar estereótipos e esse tipo de discussão pode (e deve) abranger o local de trabalho.
“A Otis não aceita nenhum tipo de exclusão, seja de orientação sexual, expressão de gênero, cunho religioso… Aqui, todos são acolhidos”, afirma Thiago. O profissional reconhece a importância de ter um ambiente como esse, pois todos saem ganhando. A empresa, por exemplo, tem em seu quadro funcionários que se sentem felizes e realizados; consequentemente, entregam mais resultados e se dedicam mais à companhia.
Thiago reforça que o respeito é uma via de mão dupla e as organizações também precisam demonstrar que se importam. A Otis participou das edições de 2019 e 2018 da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, considerada a maior do mundo, e oferece para seus funcionários um ambiente seguro e livre de discriminação.
Não demorou muito para o Elevar provar seu valor. Na verdade, a ideia mal saiu do papel e já começou a impactar aqueles ao seu redor. “Essa é uma história que sempre me deixa muito emocionado”, fala Thiago com a voz levemente embargada. Ele relembra o dia que apresentou a ideia para o RH e alguns funcionários convidados. “Eu resolvi contar um pouco da minha história para que eles entendessem o que é ser um LGBT+ expulso de casa e quais cicatrizes isso me trouxe”, relembra o Consultor de Vendas. “Hoje sei que sou um privilegiado, pois consegui passar por essa situação e agora tenho uma família que me aceita, mas essa não é a realidade da maioria das pessoas da comunidade“.
Enquanto conta sua história, Thiago percebeu que uma das convidadas estava chorando. Ela compartilhou seu próprio relato: seis meses antes, seu filho tinha se assumido e, desde então, sua casa não era a mesma. “Ela disse que não estava preparada para essa situação, mas participar daquela apresentação fez ela perceber que precisava mudar seu ponto de vista e se reaproximar do filho“. Para Thiago, se o Elevar tivesse acabado ali, sua missão já teria sido cumprida — “mas sei que temos muitas pessoas ainda para alcançar”.
Dia 28 de junho é Dia Internacional do Orgulho LGBT+, por isso achamos interessante compartilharmos essa iniciativa tão importante. Assim, esperamos inspirar outras empresas e outras pessoas a levarem adiante ideias como esta, que unem, transformam e valorizam o ser humano no ambiente de trabalho.
Nota: Em maio também é celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia (17 de maio), data que também vem ganhando relevância ano a ano.
Categorias: Curiosidades